quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Cuteleiro Como Exemplo Da Transição Da Forma Para Essência na Aquisição de Conhecimento

Cuteleiro Como Exemplo Da Transição Da Forma Para Essência na Aquisição de Conhecimento Certa vez, cuteleiro fabricava uma faca, aproxima o menino curioso e começa a observar o cuidadoso trabalho de fazer uma faca. O menino viu primeiro o trabalho grosseiro, cuteleiro batendo vergalhão de aço em fogo com martelo pesado sobre uma base de ferro, trabalho demorado com alternância de fogo, água e martelo, feito por longo e longo tempo. Veio depois uma pedra áspera, trabalho ainda grosseiro, mas não batia mais, parecia deslizar apesar da força dos braços do homem. Inicialmente apenas água e força do cuteleiro deslizando os lados do fio sobre a pedra, com cuidado, com água pingada de tempos em tempos, esse trabalho durou dias, semanas, meses. Percebia apenas a mudança do tipo de pedra. Depois de alguns dias, o menino pergunta ao cuteleiro: não concluiu o trabalho ainda? Pacientemente respondeu o cuteleiro: agora, apenas começou a surgir a forma da faca. Menino ficou pensando, como pode ser isto, como pode demorar tanto pra se realizar um trabalho de "forjar, transformação ou domínio"? Mas o menino inteligente queria entender o por quê, queria saber como é o processo todo de fabricação, construção. A arte do profissional cuteleiro está em transformar um vergalhão de aço em faça, o menino queria continuar acompanhando, se possível fazendo, entender ou compreender o significado existe atrás dessas palavras do cuteleiro: aço, fogo, bater, água, fio, pedra, tempo, repetição, forma e finalmente a essência, o produto, o resultado. Menino não fazia a faca, mas queria aproximar, absorver o conteúdo semântico existente nas palavras de ensinamento do cuteleiro, queria perceber a essência no fazer. Cuteleiro continuou fazendo os mesmos movimentos da faça sobre a pedra com a água sem contar quantas vezes ia e voltava nos movimentos deslizantes, dias, semanas, meses se passaram. A transformação na forma da faca e fio não era perceptível, mas ocorria a sutil evolução, era a transformação inserida no vergalhão de aço que se virava faca de corte finíssimo, era sempre, sempre, os movimentos repetidos de vai e vem, vai e vem monótono, cuteleiro não cansava, não se aborrecia e não desistia do trabalho, ia fazendo aquele mesmo movimento, algumas dezenas de milhares de vezes (pense na teoria das 10 mil horas do pesquisador Malcolm Gladwell, em OUTLIERS The Story of Success), em algum momento se percebia acontecer como máquina autômata perfeita sem erros e repetitiva, mas demonstrava harmonia, unidade, tempo e espaço eram perfeitos, essência era visível aos olhos atentos, movimentos ocupavam espaço no tempo com equilíbrio perfeito. Surgia aqui a faca com o fio invejável, nenhum cozinheiro colocaria defeito para os cortes perfeitos em melhores restaurantes do mundo, essa faca era um simples vergalhão de aço um momento atrás, uma transformação ocorreu no tempo nas mãos sábias de arte do cuteleiro, resultado de um trabalho demorado em processo repetitivo. Não se esqueça que a faca ao longo da sua vida útil, apenas da essência e propriedade do material (aço), agora, se coloca como faca cortante, ainda, para mantê-la com fio, ela precisa ser afiada com periodicidade para continuar a sua essência e quiçá evoluir, continuar cortando bem, melhorando sempre, exercendo a sua finalidade. Transportemos o raciocínio com o exemplo de transformação do aço para faca feito pelo cuteleiro para a nossa vida, em especial, no domínio de um conhecimento, arte marcial, ofício profissional, esporte, tocar instrumento musical etc. Na vida, normalmente, o processo de aprendizagem percorre caminhos simples: inicia-se com uma curiosidade e querer conhecer com ligeira iniciação teórica, passa-se ao domínio da forma, evolui-se em fazer sem pensar com essência, este último, poucos alcançam porque exige tempo, tempo, perseverança. A passagem do estágio da forma para o estágio da essência acontece apenas com o tempo, fazendo, cada um tem o seu tempo, estudiosos especulam em duração aproximada de dez mil horas. Então, você faz alguma coisa que já tenha acumulado tempo superior a 10.000 horas em processo continuado de aprendizado? Se a resposta for sim, o processo de transformação tem grande chance de ter agregado à essência, apenas para exemplos, podemos afirmar que a leveza dos movimentos começa a acontecer, realizar ofício funcional com autoridade no assunto, a caligrafia começa a se apresentar com os traçados da leveza e beleza, em arte marcial surge o grau mestre. Foi apenas uma reflexão do trato das coisas com o domínio do conhecimento, adestramento do corpo. Para o bom aprendiz, comenta-se na caminhada do aprendizado, na primeira e segunda fases, onde acontece o contato com a teoria e forma, o treinando deveria apenas se resumir em fazer e repetir sem perguntas e questionamentos. Não pergunte, faça. Ao ser distinguido e ultrapassar a barreira da forma para a essência, neste momento, apenas e a partir daqui, permissões e acessos são concedidos para discutir e expor as suas percepções, ainda, validando essas suas liberdades com a comunidade. São Paulo, 03 de janeiro de 2017 kawano, y.

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